terça-feira, 19 de agosto de 2014

Led, um amigo inesquecível!!!

Um ano de saudade... 

 Certa vez, após anos de insistência, minha mãe disse: 
– Tudo bem! você poderá ter um cachorro em casa, desde que: limpe as necessidades do quintal, leve-o para passear, cuide da alimentação, cuide da higiene, leve-o ao veterinário etc., etc., etc.
Pois, assim, no verão de 2001, em algum dia do mês de janeiro, meu pai disse: 
– Seu tio está doando alguns cães, pois sua cadela acabara de ter uma ninhada com vários filhotes.
– Já dei uma olhada neles e gostei de uma cadelinha malhada; 
– Traz ela, pois cadelas são mais mansas e sossegadas! 
Então, segui rumo a casa do meu tio, sozinho e ansioso pra pegar a cadelinha malhada, pois seria meu primeiro cão. Chegando na casa da minha tia, ela me mostrou a ninhada toda e foi logo dizendo:
– Esta cadelinha malhada está separada pra você, seu pai adorou ela! pode levá-la.

E percebi anos depois que a frase “não é o dono quem escolhe o cão, mas sim o cão quem escolhe seu dono” me fez todo o sentido, pois enquanto conversávamos ali de frente àquele monte de cachorrinhos andando prá lá e pra cá, um deles começou a me provocar, ele era o mais ligeirinho, parecia uma bolinha de pelos com os olhos verdinhos, tropeçando nas próprias patinhas ao tentar entrar e sair do cercadinho que foi colocado para eles. 

Cheguei a pegar a cadelinha no colo, me preparando pra ir embora, mas o pestinha parecia que queria, de alguma forma, chamar a minha atenção, pois começou a subir nos meus pés, subia e descia, algo que achei bem diferente do comportamento dos outros cãezinhos: alguns estavam no cercado amontoados uns por cima dos outros, batendo uma soneca, enquanto outros brincavam disputando um pedaço de pano velho entre eles.

Antes de partir, resolvi pegá-lo um pouco no colo, já que tanto me provocava me cativando há algum tempo; e acho que foi aí que ele me pegou, pois não consegui soltá-lo mais, seu olhar fixo em mim, com seus olhos verdinhos, parecia me dizer pra levá-lo comigo. Não pensei duas vezes, e lá estávamos nós em nossa primeira aventura!
Chegar até em casa dirigindo um fusca, com o pestinha inquieto no meu colo, chorando desesperadamente a separação de sua família canina, realmente não foi fácil pra nós, mas foi bem emocionante! Acho que meu pai achou estranho eu não ter chegado com a cadelinha malhada, mas não disse nada, e assim começariam treze longos anos de carinho, amor e amizade. 

Em homenagem a minha banda de rock preferida, Led Zeppelin, batizei-o de somente Led, e logo ficou famoso no bairro em que morávamos. Nasceu no dia 3 de dezembro de 1999, um vira-lata, mestiço de Pastor Alemão com Collie que, como todo cão, cresceu rápido, ficou com tamanho de médio para grande porte, seus olhos escureceram um pouco para uma cor de mel meio esverdeado, seu pelo ficou amarelo pra avermelhado com marcações pretas assimétricas em volta do pescoço e branco no peito, magro e muito ágil. Era de fato um cão muito bonito, chamava bastante atenção na rua, parecia um lobo, e é não por menos que há uma frase que nos faz rir até hoje ao lembrar do garotinho, que, durante um passeio olhou para nós e disse: “é um lobo tio?”.

Na época, tinha uma grande área de mata perto de casa, que ele adorava ir passear, o acesso era por um terreno baldio na frente de casa, eu o soltava na rua e ele já subia o morro em dois ou três pulos, parava lá no alto e ficava me olhando, como se me chamasse, e me esperava subir pra podermos andar por aquela mata. Lembro-me de que esse local era realmente o lugar que ele mais gostava de estar. Certa vez, achei que o tinha perdido no meio da mata, pois pairou um silêncio, eu o chamava, e nada, assobiava, e nem sinal, quando, de repente, ele aparece todo melecado, fedendo horrores e ao verificar direito o que tinha ocorrido, descobri que ele estava quietinho porque ficou rolando na carniça de algum animal morto por lá. Dei vários banhos nele, mas que não resolveram nada, acho que ele ficou fedendo ainda por um mês.

Superativo, inquieto e com muita energia pra gastar; certa vez, deixei ele preso pelo enforcador num gancho do portão, só pra eu poder pegar as chaves e fechar a casa, quando olhei pra trás, ele havia escorregado e tomou um tranco no pescoço, corri até ele e o soltei rapidamente, mas ele começou a cambalear e caiu no chão totalmente desacordado; foi uma correria total, peguei ele no colo, coloquei ele no carro apoiei sua cabeça na minha perna e fui rezando pra ele resistir. Entrei direto na emergência da clínica veterinária e o entreguei ao médico veterinário. Após longa meia hora de espera, o veterinário me informa que o tranco no pescoço o enforcou causando uma parada na circulação sanguínea, mas que, com os procedimentos de emergência e com muita sorte, desta vez, ele escapou da morte, e completou dizendo que por mais alguns minutos ele não teria resistido. 

No inverno, dormia na minha cama pra esquentar. Já, no verão, ia dormir no meio do quintal. Carnívoro ao extremo detestava frutas e legumes, era invocado e valente, latia bastante no seu território, mas adorava crianças pois era muito sossegado e carinhoso quando estava passeando na coleira ou solto em alguma praça. Não gostava muito de água; lembro-me de uma vez, quando ainda novinho, ao chegarmos na beirada de uma represa, acho que ele confundiu que a água sem movimento fosse piso sólido, e pulou, não me deu tempo de fazer nada, só me restou cair na gargalhada e ficar olhando a cara dele de bobo, com os olhos arregalados, nadando desesperado pra sair dali o mais rápido possível, foi demais! 

Uma outra vez, passei uma bela vergonha, pois estava começando um namoro com quem eu viria me casar futuramente, estava preparando uns bifes para jantarmos, e num piscar de olhos, cadê os bifes? 

O guloso enfiou os dois bifes inteiros dentro da boca e saiu correndo em disparada para o quintal, me sacaneou e queimou o meu filme com minha namorada! Essas eram algumas das trapalhadas que vivia fazendo. 

Mais tarde, certamente ele passou por fases bem difíceis, emocionalmente falando, pois quando me casei ele perdeu a cama e já não podia mais dormir comigo. Logo que minha filha nasceu, ficou todo enciumado, pois teve que dividir todas as atenções. Mas ele tirou numa boa e logo virou o melhor amigo e guardião da minha filha. Vale lembrar que a primeira palavra que minha filha falou não foi nem papai, nem mamãe, foi: “Led”.

Foram milhares de passeios, várias viagens e muitas aventuras, pois sempre que possível, estávamos juntos. O tempo passou e aquele bolinha de pelo, pestinha, foi ficando mais velho, e esse é o lado ruim de ter cães, eles envelhecem bem antes de nós. Porém passamos juntos também a fase em que ele ainda não tinha percebido que a idade avançada já tinha chegado. Aquele cachorro hiperágil já não aguentava andar tanto, então andávamos bem menos e mais devagar, ele ainda achava que podia subir uma mureta, mas caía, pois já não conseguia saltar tão alto. Começou, em certo momento, a tropeçar nos degraus e calçadas, pois já não estava enxergando bem. O pior de tudo foi quando ele ficou surdo, foi muito difícil pra ele. Mas tive o privilégio de estar junto dele pra levantá-lo e poder participar de todas as etapas da sua vida.

Ele teve alguns dias ruins em suas últimas semanas de vida, pois já estava com um problema grave de coluna, o que o impossibilitava de se levantar, e eu tinha que levantá-lo em vários momentos do dia pra que ele pudesse fazer suas necessidades e caminhar um pouco pra exercitar seus músculos e articulações. Quem já passou por isso sabe que é uma tarefa difícil e cansativa, pois o animal fica totalmente dependente da pessoa, mas agradeço a Deus por ter me proporcionado isso, não pelo sofrimento dele, mas pelo fato de ter sido uma fase em que ficamos muito próximos, pois ele dependia totalmente de mim, pelo seu olhar, parecia me agradecer e ficava muito feliz quando estávamos juntos. 

Certo dia, ele amanheceu muito mal e já no consultório do médico veterinário ele acabou entrando em choque anafilático derivado de complicações renais, e foi quando a veterinária me disse que o único procedimento a ser feito naquele momento era a eutanásia, pois não havia mais possibilidade de reverter o seu quadro clínico. E foi assim que segurei suas orelhas juntas com uma só mão como ele gostava, e com meu rosto colado no dele pedindo perdão por aquela decisão, mesmo sem saber se ele podia me ouvir. Esperei então seu sono mais profundo chegar, para, em seguida, seu velho coração descansar pra sempre.

Tenho saudade de duas coisas, principalmente: quando ele ficava sentado entre minhas pernas pra eu poder mexer e fuçar em seu pelo, pois ele adorava quando eu fazia isso, e de ver ele sentado de bunda num degrau ou no pé de qualquer pessoa.

Led, agradeço por você ter sido um cão maravilhoso e inesquecível, por ter cativado a todos que te conheceram, como me cativou, por me proporcionar muitas alegrias e satisfação, por ter sido um companheiro de verdade enquanto esteve aqui ao meu lado e que, de uma forma ou de outra, despertou o amor que hoje tenho pelos animais, especialmente pelos cães, e por ter colaborado para que eu levasse minha vida trabalhando e me dedicando aos animais. Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar.


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